Em um cenário de eventos climáticos cada vez mais extremos, a capacidade de adaptação das estruturas construídas tornou-se um desafio urgente. Atenta a essa realidade, a professora e pesquisadora Rosangel Rojas, da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande, vem desenvolvendo um material inovador capaz de resistir a condições severas: o Con-EcoForte, um concreto especial estruturado para enfrentar impactos diretos das mudanças climáticas.

A relevância desse trabalho ganhou projeção estadual após reportagem publicada no Jornal do Comércio, destacando o potencial do estudo e sua importância para o futuro das construções no Rio Grande do Sul.

Venezuelana, Rosangel chegou a Porto Alegre em 2015, em busca de novas perspectivas acadêmicas e de vida. Formada em Engenharia Civil, iniciou seu doutorado na UFRGS ainda no mesmo ano, trazendo consigo o desejo de contribuir para soluções de impacto social.
“Eu e minha família viemos apostando tudo, por conta da situação política e econômica da Venezuela. Vendemos nossas coisas por uma pechincha e acreditamos no mundo acadêmico brasileiro”, relembra.

A pesquisa desenvolvida no doutorado avançou de forma significativa, até o momento em que Rosangel foi contratada como docente pela FURG. Desde então, o trabalho não apenas ganhou continuidade, como também novas dimensões científicas e tecnológicas. O Con-EcoForte caracteriza-se como um concreto de alto desempenho voltado ao reforço estrutural, podendo apresentar até cinco vezes mais resistência à tração do que um concreto convencional.

“O concreto comum é frágil sob tração, se rompe facilmente. Já uma estrutura com fibras, como a nossa, apresenta comportamento dúctil, algo mais próximo do aço, suportando muito mais esforço antes de romper”, explica. Ela destaca que esse tipo de solução poderia ter feito diferença em diversas estruturas danificadas nas enchentes recentes no estado. “Pense em quantas pontes foram destruídas. Muitas ficaram vulneráveis, e esse material surge como uma alternativa de adequação e reforço.”

Uma das principais inovações do Con-EcoForte está na baixa porosidade. Como o concreto armado depende da proteção do aço para evitar corrosão, poros interligados se tornam verdadeiras “estradas de fissuras”, facilitando a entrada de agentes agressivos. O material desenvolvido pela pesquisadora reduz essa permeabilidade, aumentando a durabilidade e prolongando a vida útil das edificações.

No ambiente acadêmico, Rosangel segue dedicada ao aprimoramento do produto, mas lembra que, como pesquisadora pública, não pode comercializá-lo diretamente. Ela ressalta a importância da integração entre universidade e setor produtivo.
“Existem mecanismos, como fundações, que permitem investir recursos na pesquisa. Isso é fundamental, porque professores não têm orçamento para isso. Essas parcerias fortalecem laboratórios, possibilitam comprar materiais e equipamentos e geram inovação para a indústria”, explica.

O horizonte futuro da pesquisa inclui uma nova fronteira: a sustentabilidade. Rosangel e sua equipe estudam aditivos de origem biológica, capazes de dar ao material uma função autorregenerativa.
“A ideia é avançar para uma versão Bio-Con-EcoForte, com microcápsulas que aumentem a resistência e permitam que o concreto se regenere”, revela.

Com o avanço das mudanças climáticas impactando diretamente o Rio Grande do Sul e outros territórios vulneráveis, Rosangel acredita que o reforço estrutural ganhará ainda mais relevância na formação de engenheiros e pesquisadores. “Infelizmente, a humanidade costuma se preocupar com fenômenos só depois que acontecem. Mas esse é exatamente o momento de prepararmos soluções.”

A Escola de Engenharia celebra o protagonismo da docente, cujo trabalho reforça o papel estratégico da universidade pública na produção de conhecimento e na criação de tecnologias essenciais para a sociedade.

 

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